quinta-feira, 7 de abril de 2016

Ilustrações de Finden à vida e obra de Byron

Pensou-se desejável fazer num volume, os primeiros oito números destas ilustrações de Lord Byron (1788-1824), em paisagem e retrato, para organizá-las de uma forma menos inconstante do que foi a ordem da sua publicação, e acompanhar as estampas com informação, de autores eminentes e de fontes originais, sobre os temas das gravuras.

Lord Byron (1788-1824) por Thomas Phillips, 1813.
Imagem: Wikipedia

O primeiro volume é assim apresentado ao público de uma forma completa; e os sucessivos oito números do trabalho serão, após a sua publicação, adaptados do mesmo modo,  formando assim um elegante acessório para a mesa de sala e para a biblioteca de obras ilustradas [...]

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BELEM CASTLE, LISBON

Desenhado por C. Stanfield, A.R.A.
[Associate of the Royal Academy]


Belem Castle, Drawn by C. Stanfield, Engraved by E. Finden.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal
On, on the vessel flies, the land is gone,
And winds are rude in Biscay's sleepless bay.
Four days are sped, but with the fifth, anon,
New shores descried make every bosom gay;
And Cintra's mountain greets them on their way,
And Tagus dashing onwards to the deep,
His fabled golden tribute bent to pay;
And soon on board the Lusian pilots leap,
And steer 'twixt fertile shores, where yet few rustics reap.

Childe Harold, canto i. St. 14.
[...] Saímos agora da Torre de Belém, onde um escritório é mantido para o registo de todos os navios que entram e saem do Tejo; assim como num estabelecimento de oficiais de alfândega, oficiais de saúde, e um deepartamento de policia naval, para a proteção da propriedade, e a defesa da passagem.

Belem Castle, Rev. William Morgan Kinsey, Portugal Illustrated in a series of letters, 1827.
Imagem: Cabral Moncada Leilões

Mr. Hobhouse, numa nota às linhas de Lord Byron "Escrito depois de nadar a partir Sestos a Abydos", diz, "Meu companheiro antes tinha feito uma travessia mais perigosa, mas menos célebre; lembro-me de que, quando estávamos em Portugal, ele nadou desde Lisboa velha até à Torre de Belém; e mesmo tendo que lutar com a maré,  a contra-corrente e o vento fresco, demorou pouco menos de duas horas a travessia".

LISBON, FROM FORT ALMADA

Desenhado por C. Stanfield, A.R.A. a partir de um Esboço de W. Page.


Lisbon from Fort Almeida [sic], Drawn by C. Stanfield from a Sketch by W. Page, Engraved by E. Finden, Fieldmarshal The Duke of Wellington
Imagem: Cesar Ojeda
What beauties doth Lisboa first unfold!
Her image floating on that noble tide,
Which poets vainly pave with sands of gold,
But now whereon a thousand keels did ride
Of mighty strength, since Albion was allied,
And to the Lusians did her aid afford:
A nation swoln with ignorance and pride,
Who lick, yet loathe, the hand that waves the sword,
To save them from the wrath of Gaul's unsparing lord.

But whoso entereth within this town,
That sheening for celestial seems to be,
Disconsolate will wander up and down
'Mid many things unsightly to strange ee;
For hut and palace shew like filthily,
The dingy denizens are reared in dirt;
No personage of high or mean degree
Doth care for cleanness of surtout or shirt,
Though shent with Egypt's plague, unkempt, unwashed, unhurt.

Childe Harold, canto i. st. 16, 17.
É difícil encontrar um único autor que tenha escrito sobre Lisboa, sem perceber que, quando quase esgotou os termos de panegírico sobre a sua bela localização e gloriosa aparência, traz instantaneamente, em contraste com estes, a linguagem do desprezo e repugnância à imundície e abominações desta pior que pintada sepultura.

"Quando entrámos Lisboa no ano passado, após a convenção de Cintra, pelas estradas que a ela levam a partir do Vimeiro" diz o coronel Leach, no seu "Rough Sketches of the Life of an Old Soldier...", "não tinhamos, até agora, uma oportunidade de julgar de sua aparência a partir do Tejo. As casas de campo e conventos ao lado das mais pitorescas colinas, densamente plantadas com vinhas; a legião de moinhos de vento perto de Belém; e, finalmente, a cidade em si, formam juntos uma imagem encantadora, que qualquer tentativa minha para lhes fazer justiça deve inevitavelmente falhar por completo. Além disso, de Lisboa e o seu rio têm sido muitas vezes descritos por penas muito mais capazes [...]"

No meio de tudo isso, no entanto, Lord Byron mostra-se, por escrito ao Sr. Hodgson de Lisboa, num dos seus mais alegres estados de espírito, diz ele: 

"Estou aqui muito feliz, porque gosto de laranjas, e falar mau latim com os monges, que o compreendem, como se fosse o seu próprio; e vou para a sociedade (com as minhas pistolas de bolso), e nado no Tejo que atravesso de uma vez, e passeio de burro ou mula, e digo palavrões em português, e tive uma diarreia e picadas dos mosquitos; mas o que é isso? o conforto não deve ser esperado por pessoas que vão a prazeres."

Da cena específica, que constitui o objecto da estampa em anexo, a melhor descrição é encontrada a acompanhar a vista do coronel Batty tomada quase do mesmo local, na sua obra "Select Views of the Cities of Europe", — Lisbon, from Almada.

"Em frente a Lisboa fica Almada, no cume, e perto do extremo leste, das altas falésias, que se estendem ao longo da margem sul do Tejo, a partir daí para o mar. A partir desta posição elevada temos uma série de vistas panorâmicas de grandeza incomparável."

"Para norte toda a extensão de Lisboa é vista cobrindo as colinas opostas, e formando uma borda brilhante para o Tejo. Para o oeste, o nobre rio é visto continuando seu curso majestoso, e fluindo para o oceano Atlântico oceano, entre as torres distantes de St. Julian e de Bugio; e para este o rio espalha-se num vasto estuário, delimitada por uma longa extensão de terra."

"Para sul os outeiros de Almada inclinam-se para um vale coberto de vinhedos, atrás do qual há uma subida gradual com colinas arborizadas, até que, a uma distância de várias milhas, o horizonte é limitado pela cadeia montanhosa da Serra d'Arrábida, tendo a notável montanha coroada com o castelo de Palmela para este, e o castelo mouro distante de Cezimbra em direção a oeste."

"Na vista em anexo, o espectador é suposto estar a olhar para montante do rio, na direção noroeste."

Lisbon from Almada, Drawn by Lt. Col. Batty, Engraved by William Miller, 1830.
Imagem: Wikimedia

"Parte de Lisboa ocupa o lado esquerdo da cena. O convento da Penha de Franca fica na colina mais distante nesse lado. Um pouco à direita, na colina ao lado, é a capela de Nossa Senhora da Monte. O castelo é visto cobrindo o morro ainda mais para a direita; e as torres da igreja de São Vicente, o local de enterro dos monarcas portugueses, coroam o cume da colina perto da extremidade da cidade." 

"Em linha com as torres de São Vicente, mas mais próximo do espectador, são as velhas torres castanhas da catedral [sé]; e à sua frente, perto para o Tejo, são os edifícios que cercam a Praça do Commercio: estes, com a Alfandega, o arsenal naval, e o Caes de Sodré, formam juntos uma gama imponente de edifícios. Numeros navios estão espalhados sobre a ampla bacia do Tejo;"

"o todo, combinado com a alta e precipitada falésia de Almada, em primeiro plano, formam uma interessante e impressionante paisagem".

CINTRA

Desenhado por C. Stanfield, A.R.A. a partir de um Esboço de Capt. Elliot.


Cintra, Drawn by C. Stanfield from a Sketch by Captain Elliot, Engraved by E. Finden, Fieldmarshal The Duke of Wellington
Imagem: ANTIQBOOK
Lo! Cintra's glorious Eden intervenes
In variegated maze of mount and glen.
Ah me ! what hand can pencil guide, or pen,
To follow half on which the eye dilates
Through views more dazzling unto mortal ken
Than those whereof such things the bard relates,
Who to the awe-struck world unlock'd Elysium's gates?

The horrid crags by toppling convent crown'd,
The cork-trees hoar that clothe the shaggy steep,
The mountain moss by scorching skies imbrown'd,
The sunken glen whose sunless shrubs must weep,
The tender azure of the unruffled deep,
The orange tints that gild the greenest bough,
The torrents that from cliff to valley leap,
The vine on high, the willow-branch below,
Mix'd in one mighty scene, with varied beauty glow.

Childe Harold, canto i. st. 18, 19.

MAFRA

Desenhado por D. Roberts a partir de um Esboço de C. Landseer.


Mafra, Drawn by D. Roberts from a Sketch by C. Landseer, Engraved by E. Finden.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal
Yet Mafra shall one moment claim delay,
Where dwelt of yore the Lusians' luckless queen;
And church and court did mingle their array,
And mass and revel were alternate seen
Lordlings and freres ill-sorted fry I ween!
But here the Babylonian whore hath built
A dome, where flaunts she in such glorious sheen,
That men forget the blood that she hath spilt,
And bow the knee to pomp that loves to varnish guilt.

Childe Harold, canto i. st. 29.


(1) William Brockedon (1787-1854), Edward Francis Finden (1791-1857), William Finden (1787-1852), Finden's illustrations of the life and works of Lord Byron, Vol. I, London, J. Murray, 1833

Artigos relacionados:
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Informação adicional:
D. G. Dalgado, Lord Byron's Childe Harold's pilgrimage to Portugal, Lisboa, Imprensa nacional, 1919
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