segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Mina de água do Pombal

Por decisão da Senhora presidente da Câmara Municipal de Almada, e na linha da sua preocupação para com a investigação, restauro e preservação do património deste concelho, mandou esta proceder ao desaterro de uma estrutura na zona do Pombal cujas origens remontam à idade Média, constituída por mina de águas, tanque e respectivos acessos, datando seguramente do século XIII, e aterrado por razões que se prendem com a urbanização do local, na década de sessenta deste século.

Chafariz do Pombal, Almada, ed. desc., década de 1900.
Imagem: Delcampe

Dado o interesse manifestado pelas populações relativamente ao conjunto patrimonial em referência, a Junta de Freguesia da Cova da Piedade decidiu divulgar as poucas informações disponíveis sobre o local, proporcionando aos interessados elementos de caracter histórico por forma a melhor poderem avaliar o interesse deste núcleo no contexto da vida social e económica da região ao longo dos séculos.

Alfeite, vista Geral tomada da Quinta do Pombal (detalhe), ed. desc., década de 1940.
Imagem: Bosspostcard

O conjunto em referência cumpriu durante séculos a dupla finalidade de abastecer de água a população das zonas próximas, e desedentar o gado das redondezas, fazendo-se o acesso por uma rampa empedrada a basalto.

Cova da Piedade, fonte Medieval do Pombal.
Imagem: Flickr

Tudo indica que seriam frequentes os litígios entre os seus utilizadores, acentuando-se os conflitos de tal modo que em 1392, uma sentença repartiu a água entre a Albergaria ou Casa dos Gafos de Cacilhas, que aí tinham uma propriedade, e outros proprietários das redondezas. 

A partir da referida sentença, a utilização da mina e do tanque passou a ser de uso público e, naturalmente, por esse motivo foi encimado pelas armas de Portugal.

Bandeira pessoal de D. João I com a sua divisa "Pour bien".
Imagem: Wikipédia

A atestar a antiguidade do escudo de armas está à disposição das quinas em cruz. Este, quando do aterro a que já fizemos referência, foi retirado do seu lugar de origem e posto a salvo no Convento dos Capuchos, por iniciativa do eminente investigador da história local, arqueólogo e homem de cultura Dr. Mário Bento, para quem Almada tem uma dívida de gratidão.

De resto, deve-se a esta personalidade a recolha da cantaria da entrada monumental da antiga quinta das Rosas do Pombal, recolhida igualmente nos Capuchos, e infelizmente em péssimas condições de conservação.

Portal da Quinta do Pombal, rótulo de garrafa de vinho (detalhe).
Imagem: Soc. Com. Theotónio Pereira, Lda.

Na primeira metade do século XX, já a água da mina do Pombal não era de boa qualidade para consumo e deixou de ser utilizada para esse fim, procedendo a Câmara Municipal de Almada à colocação de um chafariz no cimo da rampa de acesso, ligado à rede pública de abastecimento. 

No século XIV, o sítio compreendia uma extensa área que ia desde a referida mina de água, até à actual Rua de Vera Cruz, compreendendo o actual bairro de Na Senhora da Piedade e a quinta do Pombal que ali existia.

Bairro das Casas Económicas, Júlio Diniz, década de 1950.
Imagem: Cibersul

Em 1390 a Casa dos Gafos de Cacilhas possuia aí uma propriedade que, por confrontar em toda a volta com caminhos públicos e por dela constar parcelamento por vários aforamentos supomos que abrangia grande parte da área citada.

Os aforamentos mais antigos, e mais interessantes, da Albergaria de S. Lázaro, no Pombal são: 

Em 1393, um casal de "herdade de pão e vinho" que trazia um tal Marcos, escudeiro;

Em 1409, um bacelo que entestava com "caminho público de Pombal para Alvalade", a actual Ramalha;

Em 1539, um cerrado ( junto da mina), aforado a Frutos de Gois, irmão do cronista Damião de Gois, e avô do 19 senhor do morgado de Mutela, Luís de Gois Perdigão de Mendonça;

Em 1539, uma quinta e cerrado, aforados ao adail Diogo Fernandes. Este,coincide em nome e cargo com aquele de que fala Gaspar Correia nas "Lendas da India"."mandou Diogo Fernandes , homem cavaleiro, a que deu o cargo de adail, com doze de cavalo... e com mil piães que passasse à terra firme".

Ainda em 1539, refira-se que uma das propriedades de Albergaria neste sítio confrontava com um morgado de Vasco Lourenço.

Em 1555, uma sentença proferida contra Francisco de Sousa Tavares e sua mulher D. Maria da Silva, obrigava estes a pagarem ao prior e aos beneficiados das igrejas de Almada foro, "por um olival, certas geiras, tudo junto, contíguo e cerrado", que partia do norte com olival e do leste com estradas públicas, tudo isto no Pombal.

José Carlos de Melo.

Finalmente, o último proprietário [anterior à familia Theotónio Pereira] da chamada quinta do Pombal foi o notável publicista almadense, José Carlos de Melo: que aí nasceu em 1885. (1)


(1) Policarpo, António Manuel Neves, Mina de água do Pombal, Cova da Piedade, Junta da Freguesia, 1993

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José Carlos de Melo


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