quinta-feira, 26 de março de 2015

Almaraz

Nome com que se designa a orla esquerda do rio Tejo, em frente a Lisboa. (1)

Praça do Comércio e Rio Tejo, Francesco Rocchini (1822 - 1895), c. 1868.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Reflectindo-se nas aguas tranquillas do mais vasto e magestoso porto do mundo, banhada pela mansa corrente do seu aurífero Tejo, reclinando-se docemente sobre terrenos de leve pendor, onde aqui e ali brotam macissos de virente vegetação, sob um ceu de pureza inegualavel, e com um clima ameno e vivificante, a cidade de Lisboa revê-se nos terrenos fronteiros de alem-Tejo, semeados de povoações, de fabricas, de matas e de vinhedos, e que descem até a margem do rio por vertentes rápidas, ou por escarpas abruptas.

Baixa e Rio Tejo, Francesco Rocchini (1822 - 1895), c. 1868.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Pela base d'esses terrenos e banhadas pelas aguas do Tejo estendem-se as edificações, quasi ininterrompidamente, formando grupos, ou povoações, que tomam os nomes de Cacilhas, Ginjal, Arrábida, S. Lourenço, Affonsina [sic] e Banatica, até a Trafaria.

Baixa e Rio Tejo, Francesco Rocchini (1822 - 1895), c. 1868.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Em cima, Almada, a velha Cetobrica dos romanos, com as muralhas do seu castello e as torres das suas igrejas recorta pittorescamente o horizonte, reflectindo os raios afogueados do sol poente nas vidraças das casas, como se estivessem illuminadas em festa, ou ardendo em chammas [...]

Regata dos barcos da Channel Fleet em Lisboa, 1869.
Imagem: amazon

Na margem do S. ha ainda os seguintes pontos, que servem aos navegantes para a sua derrota:

Plano do porto de Lisboa e das costas adjacentes (detalhe), 1804.
Imagem: Bibliothèque nationale de France

Torrão — pequeno logar que fica mais a W. da margem S. do Tejo.

Calhaus do mar — grupo de pedras que existe próximo do areal da Trafaria.

Plano Hidrográfico do Porto de Lisboa, A. F. Lopes e Rodrigues Thomaz, gravura, 1932.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Trafaria — povoação das mais importantes do S. do Tejo, com grande accumulação de casas de pescadores, facilmente reconhecível.

Trafaria, c. 1900.
Imagem: Delcampe

Lazareto — edifício de grandes dimensões assente no cimo da montanha e descendo pela vertente, com diversos corpos em amphitheatro.

Torre velha — fronteira á torre de Belém, e a W. do Porto Brandão — logar bem reconhecido, pela grande quantidade de casas que fícam adjacentes áquella margem.

Banatica — logar que bem se distingue pelas pedreiras em exploração, cortando o terreno em talude muito áspero, e ao qual ficam próximas as marcas do limite W. da milha maritima.

Plano Hidrográfico do Porto de Lisboa, A. F. Lopes e Rodrigues Thomaz, gravura, 1932.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Alfanzina — pequeno porto a montante da Banatica.

Porto de S. Lourenço — fica ao N. do logar denominado Palença, e onde está installada uma grande fabrica de cerâmica.

Portinho da Arrábida — a nascente do qual, e na quebrada da montanha, ficam as duas marcas de alvenaria, que dão o limite E. da milha maritima. E com estas marcas e com as da Banatica que se vão acertar os relógios e experimentar o andamento dos navios. A milha official é dada pelo enfiamento dos dois grupos de marcas.

Torre de S. Paulo — na villa de Almada, a W. da povoação e em ponto elevado, uma das marcas mais importantes da margem sul do Tejo.

Plano Hidrográfico do Porto de Lisboa, A. F. Lopes e Rodrigues Thomaz, gravura, 1932.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Pontal de Cacilhas — ponta SE. da povoação d'este nome, e limite N. da enseada chamada da Cova da Piedade. (2)

Plano Hidrográfico do Porto de Lisboa, A. F. Lopes e Rodrigues Thomaz, gravura, 1932.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

[...] arribas da margem sul do Tejo desde Cacilhas à Trafaria. A denominação de Almaraz foi corrente entre a gente de rio e mar até principios do nosso século [XX] mas hoje restringe-se praticamente à quinta desse nome em Cacilhas. (3)


(1) Dicionário Priberam da Língua Portugues
(2) Loureiro, Adolfo, Os portos maritimos de Portugal e ilhas adjacentes, Vol III parte 1, Lisboa, Imprensa Nacional, 1906
(3) Pereira de Sousa, R. H., Almada, Toponímia e História, Almada, Biblioteca Municipal, Câmara Municipal de Almada, 2003, 259 págs.

Artigo relacionado:
H. Parry & Son, estaleiro no Ginjal


Informação relacionada:
Jornal Público, edição de 2 de julho de 2006

Lamas, Pedro Calé da Cunha, Os taludes da margem sul do Tejo - evolução geomorfológica e mecanismos de rotura, Lisboa, Universidade Nova, 1998, 21.71 MB.

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