sábado, 14 de fevereiro de 2015

Fonte da Telha

Era a fonte de alegria sã, de saúde do corpo e da alma...

A Fonte da Telha (Costa da Caparica, Praia do Sol), Cruz Louro, 1937.
Imagem: Cruz Louro

A Costa do Sol fem sete léguas de extensão. Desde a Cova do Vapor ou Ponta da Areia onde pode ter comêço a sua exploração como praia, segue, entre o mar e pinhais, até à povoação actual.

A dois passos de Lisboa, êsse estranho, novo e intenso tom doirado das florestas de acácias, constituem um incentivo de digressão interessante: não é menos empolgante do que as amendoeiras em flôr.

As acácias em flõr formam um mar doirado ao lado do outro mar...

Daí para o sul, é uma cadeia de pontos pitorescos onde podem estabelecer-se novos núcleos de população ou onde quem queira pode isolar-se em maravilhosos recortes de paisagem.

Descida do Robalo, Foz do Rêgo, Descida dos Carrascalhinhos, Descida das Vacas. etc.. etc.. etc.. até ao paraíso — a Fonte da Telha — sem dúvida a praia ideal. o melhor que pode haver, — porque não pode haver melhor em parte alguma do mundo...

Fonte da Telha, Carta dos Arredores de Lisboa — 75 (detalhe), Corpo do Estado Maior, 1903.
Imagem: IGeoE

Dai para o sul, ainda poderia continuar a peregrinação: Blunete, Mina do Ouro, Balcões, a Malha Negra, Olhos de Água, a Lagôa...

Mas a Fonte da Telha é o paraiso. Na rocha, a 200 metros de altura, pinhal cerrado, secular, a tôda a extensão norte e sul; a rocha descai em declive suave a conduzir à praia, ali, pertinho a 100 ou 150 metros de distância.

Águas medicinais, férreas, bicarbonatadas e doutras mineralizações. Riqueza de peixe.

Fonte da Telha, Dois barcos, História pela imagem dos barcos na Costa de Caparica, Cruz Louro, 1971.
Imagem: Cruz Louro

Umas dezenas de barracas de pescadores subindo o declive.

A Fonfe da Telha é alguma coisa de extraordinàriamenie belo e salutar. Vive-se ali entre o mar e os pinheiros. São unânimes todas as opiniões: não há, não pode haver melhor.

Fonte da Telha, 2006.
Imagem: wikimapia

Estará, relativamenie a transportes e a comodidades, semelhante ao que a Praia do Sol era há uma dúzia de anos.

Quando a Praia do Sol fôr como Espinho, a Fonte da Telha será como a Granja. 

Entretanto, quem apreciava a rusticidade primiliva da Costa e lamenta agora a invasão do progresso, da concorrência tumultuária, tem ali e terá ainda durante muitos anos, vastissimo campo de isolamento.

Centro Turístico Internacional da Costa, separata do Jornal de Almada, 1968.
Imagem: Sesimbra identidade e memória

Ali, sim. Param as coisas da terra — é o paraíso. (1)


(1) Praia do Sol (Caparica): estância balnear de cura, repouso e turismo, Monografia de propaganda do Guia de Portugal Artístico, 1934, M. Costa Ramalho, Lisboa.

1 comentário:

Anónimo disse...

Oh! Fonte da Telha! Quem te viu e quem te vê. Nos anos cinquenta tinhas quatro ou cinco cabanas de pescadores, uns barcos de pesca a remos, meia-dúzia de gatos pingados que em ti viviam e três ou quatro 'vivendas' só habitadas durante a época balneária. Nem electricidade, nem telefone, a iluminacão era a vela ou candeeiro de petróleo. Mas que noites, com o firmamento encharcado de estrelas e a banda luminosa da Via Láctea cortando o céu em duas partes. Carne, essa vinha da Charneca ou da Caparica, uma vez por semana. Comia-se peixe, mas que peixe! Pescado à noite e comido ao almoco, que beleza! A praia era toda para nós. Nem surfistas, nem automóveis, nem música. Não tinhas igual. Agora comecas a assemelhar-te a tantas praias pelo mundo fora: estradas alcatroadas, B&B, automóveis por toda a parte, infestada de construcões macabras, de bares, de turistas nacionais e estrangeiros. Que desgraca, que desgosto, que poluicão do meio ambiente.