sábado, 27 de setembro de 2014

A sereia

A Costa — a sereia do Sul — tem muitos apaixonados...

Caparica, miradouro do Convento dos Capuchos, 1954.
Imagem: Delcampe, Bosspostcard

Como todos os apaixonados — loucos de amor por ela (sempre o eterno feminino!...), cegos de paixão, egoistamente têm procurado preserverá-la de quantos se possam aproximar, enamorar-se também, e envolver a sereia noutro ambiente que não seja o da primitiva rusticidade.

Exclusivismos de amor... Todos os sinceros amantes são exclusivistas...

Mas o leito da praia tem sete léguas.

A sereia expraia-se por sete léguas do mesmo areal, da mesma païsagem, do mesmo quadro.

Pode aqui formar-se um grupo de admiradores que perturbe o devaneio do poeta, a lucubração do artista, o sonho do azul, o romance da vaga — mas mais adianle, uns quilómefros mais adianíe, no mesmo quadro de séculos, no mesmo areal de sempre, a sereia espreguiça-se à vontade, chamando os seus apaixonados para mais longe... mais longe... e depois ainda mais longe... onde a sós, num mudo colóquio de amor, continue o devaneio, o sonho, o romance de encantamenio e de paixão...

Costa da Caparica, turistas, década de 1950.
Imagem: Cocanha

E entretanlo vem a multidão também extasiar-se perante a maravilha...

O poela e o artista descobriram e bradaram o mistério de beleza — a beleza eterna que só aos eleitos é dado desvendar.

Costa da Caparica, turistas, 1956.
Imagem: Eulália Duarte Matos

E a multidão acudiu a êsse brado e viu a coluna de espuma em curvas de sensual beleza, incensada de aromas, resplendente de luz — e quedou-se maravilhada.

Aquela era a beleza magestosa em que a natureza se diviniza...

Costa da Caparica, turistas, agosto de 1940.
Imagem: Delcampe, Bosspostcard

E a multidão rodeando a imagem, — o sonho, o devaneio, feitos luz, aroma e espaço — completou o quadro.


(1) Praia do Sol (Caparica): estância balnear de cura, repouso e turismo, Monografia de propaganda do Guia de Portugal Artístico, 1934, M. Costa Ramalho, Lisboa.

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