domingo, 18 de maio de 2014

Alcipe

Marquesa d'Alorna, Franz Joseph Pitschmann, Viena, 1780
Imagem: Wikipédia

Tomando posse da sua casa, foi viver por algum tempo na Quinta de Almeirim, e n'outra em Almada, 

Almada. Rua Direita e Egreja de S Paulo Câmara Municipal, ed. Martins/Martins & Silva, 31, c. 1900
Imagem: Fundação Portimagem

onde practicava toda a liberalidade e todo o bem que n'outro tempo fizera em Almeirim, soccorrendo agora dalli particularmente os habitantes pobres de Cassilhas, que por isso lhe chamavam a Màe de Cassilhas, demonstrando e agradecendo os benefícios que delia recebiam.

Muitas vezes dizia ella, que presava mais este titulo do que os outros que tinha, ou poderiam dar-lhe, porque deste lhe resultava maior gloria. (1)

O Tejo, que algum dia, se eu cantava,
Erguido sobre as ondas m'escutava,
Hoje nem se enternece,
E ao som dos meus gemidos adormece.

Escarpas na margem sul do Tejo.
O Pintor Eduardo Leite ladeado de duas crianças, João Alves de Sá, 1926
Imagem: Palácio do Correio Velho

"Na sua quinta d'Almeirim costumava meu pae residir uma grande parte do anno, especialmente no inverno, recreando-se com a Musica e a Poesia, a que era muito aífeiçoado; e quando se aproximavam os calores do Estio, passava á outra quinta d'AImada, onde se entretinha com a Astronomia, sciencia de que possuia não vulgares conhecimentos." (2)

Inflamma o peito com paixões sublimes:
Té que em fim, transportado e fervoroso,
Extático apercebe a Divindade;
E no mundo, feliz, os gostos prova
Que a angélicas essências só competem.

Estes sào os sagrados sentimentos
De tua alma elevada, ó Pae amado!
Teus pensamentos e paixões ditosas
Assim suavemente modificas.


D. Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre (1750 - 1839), Marquesa de Alorna, conhecida como Alcipe nos meios literários, era filha de D. João de Almeida Portugal, conde de Assumar, e avó de D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto, Marquês de Fronteira.

[A Quinta do Conde era uma] quinta de grande dimensão localizada entre Almada e os Caranguejais, de limites mal conhecidos.

Vista parcial do lado sul de Almada, Possidónio da Silva, 1863
Imagem: Revista pittoresca e descriptiva de Portugal

Em 1811 quando se construiu o reduto que teve o nome de Forte do Conde, o lugar da construção, perto da escola Frei Luís de Sousa, era terreno da Quinta do Conde.

Carta Topográfica Militar da Península de Setúbal, José Maria das Neves Costa, 1813 (detalhe)
Imagem: Instituto Geográfico do Exército

No mesmo lugar se construiu a parte de linha de defesa de Almada e Cacilhas que teve o nome de "frente da Quinta do Conde".

O conde em causa é um dos condes de Assumar, muito provavelmente D. João de Almeida Portugal [...] Provedor da Misericórdia entre 1796 e 1802.

Mais a Norte desta propriedade, contígua a casas e quintal da Misericórdia, na Rua Direita, existiu uma propriedade que no século XIX era designada por Quinta do Conde. 

Almada, Vista parcial, ed. J. Lemos, 31 (detalhe)

Esta quinta pertencia ao Marquês de Fronteira [...] (3)

Prédio Queimado, Tenda Moderna, Almada
Imagem: Delcampe, Oliveira


(1) Alorna, Marquesa de, Obras poéticas, Vols. I e II, Lisboa, Imprensa Nacional, 1844

(2) Alorna, Marquesa de, Obras poéticas, Vols. III e IV, Lisboa, Imprensa Nacional, 1844

(n. do ed.) Alorna, Marquesa de, Obras poéticas, Vols. V e VI, Lisboa, Imprensa Nacional, 1844

(3) Pereira de Sousa, R. H., Almada, Toponímia e História, Almada, Biblioteca Municipal, Câmara Municipal de Almada, 2003, 259 págs.

Leitura adicional: Biografia de Alcipe, Fundação das casas de Fronteira e Alorna

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